«Os gajos do Ajax há uns anos atrás com 16, 17 anos apareciam, jogando na primeira equipa sem problemas. Então, se eles jogam desde os oito anos assim, porque é que não haviam de jogar?», as palavras são de Vítor Frade.
Parece simples, não parece? Quando existe talento, quando quem o acompanha cria as condições ao seu desenvolvimento e quando o modelo é contínuo o sucesso concretiza-se. Foi assim no Ajax de Johan Cruijff e na sua Laranja Mecanica, é assim no Barcelona de Xavi, Iniesta e Messi, é assim na actual selecção espanhola.
Mas se os exemplos são esmagadores, se a qualidade dos mesmos é inquestionável, onde reside a duvida? Como, perante isto, o futebol de formação em Portugal continua com modelos que não pensam o jogo, que jogam com base em desequilíbrios individuais e onde os grandes dominam graças a um domínio completo do mercado jovem?
Urge uma mudança de paradigma, é preciso entender o quão errados estamos e aproveitar o bom do nosso futebol, e isto deve começar por cima, pelos clubes do topo, enquanto estes continuarem a acreditar numa formação reconhecida apenas pelos resultados, onde o individual supera o colectivo, onde se contrata a pensar demasiadas vezes no rendimento e onde o jogo é colocado de parte em função dos valores individuais de jovens bombas, que “explodem” e desaparecem muito antes da entrada no futebol sénior, estaremos sempre um passo atrás.
Mas para ultrapassar esta questão será necessária muita paciência, a formação não é um momento mas um processo, que deverá ter continuidade no futebol sénior, para isso teremos de estar preparados em centrar o nosso foco noutras prioridades, teremos de aprender imenso mas felizmente existe onde o fazer, recentemente esteve em Portugal Albert Puig, coordenador da formação do Barcelona, e as suas declarações mostram um pouco do caminho: «Temos dois pilares na formação do Barcelona: formar pessoas e sustentar os seniores. Desde os sete anos que os jogadores treinam com a ilusão de chegar à primeira equipa. São 25 anos de uma mesma ideia e isso é que faz o Barcelona de hoje». Um Barcelona incrível, de inspiração holandesa como o próprio reconheceu, com pormenores de um trabalho notável e de um futebol incomparável.
Nas suas sábias palavras há que salientar os objectivos e dois pontos fundamentais, o de todos pensarem segundo uma ideia própria, o tal modelo que defendo, e a orientação de todos os jogadores com vista à primeira equipa. Para isso «todos os escalões treinam da mesma maneira, pelo que os mais jovens estão muito preparados para jogar na equipa principal quando chega a altura. E para comprová-lo temos actualmente 11 jogadores da formação no plantel principal, sendo que oito são campeões do mundo», acrescentou o técnico.
É tempo de mudança, para um futebol melhor, onde não chega dizer e parecer, há que, definitivamente, mudar comportamentos para a (r)evolução que a nossa formação necessita.
Artigo escrito para o Futebol Portugal
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