Mais que um jogador, um Fenómeno

Quando vagueamos por esses campos fora, vendo jogos de camadas jovens, campeonatos distritais e divisões amadoras surpreendem-nos certos jogadores, claramente acima dos restantes, por norma com ar de incompreendidos, perdidos do mundo. A imagem é frequente, normalmente as gentes dizem que não “tiveram cabeça”, que “faltou a estrelinha da sorte” para serem um craque. São casos enigmáticos, com um ar de sua graça, que nos deixam a pensar.

Há uns dias enquanto via um jogo do campeonato brasileiro um jogador deixou-me a mesma imagem, só que este é bem mais conhecido, de seu nome Ronaldo Luis Nazário de Lima, falo claro de Ronaldo, O Fenómeno. Depois dos títulos, dos prémios individuais, dos imensos golos, dos contratos milionários e das noitadas Ronaldo está agora no Corinthians. Voltou ao seu Brasil depois de catorze anos na Europa e a imagem de um jogador muito superior a todos os que os que o rodeiam nos “gramados” canarinhos deixa-me estupefacto, é verdade que tem hoje um peso astronómico para a alta roda europeia, mas a qualidade ainda está lá, escondida entre os quinze quilos a mais, o ar de moleque, as noitadas e a vida despreocupada.

O nosso futebol foi habituado a eleger os seus pequenos Deuses, jogadores sem igual, homens que marcaram a sua era neste desporto, Di Stefano, Pelé, Cruyff e Maradona. Depois destes ainda nenhum conseguiu reunir o consenso necessário para subir a esta pequena classe de génios. Zidane, Ronaldinho, agora Messi e Cristiano Ronaldo não andarão longe… No entanto no auge da sua forma, Ronaldo esteve bem lá perto, depois da sua chegada à Europa, o génio que o Barcelona foi buscar ao PSV e que um ano depois rumou a Itália era já colocado nesse Olimpo, hoje revendo a sua carreira podemos afirmar que não conseguiu, manteve-se ao nível dos da sua geração, mas ainda assim será sempre O Fenómeno!

A Ronaldo faltou sorte e cabeça, o potencial esteve e está lá, as lesões desgastaram o fenómeno que fazia voar defesas à sua frente, mudaram o estilo do avançado tipo “running back” que para brilhar precisava apenas de relva para explodir em velocidade, mas ainda assim Ronaldo conseguiu feitos incríveis, é hoje o segundo melhor marcador de sempre da selecção brasileira, apenas atrás do rei Pelé, foi melhor do mundo por três vezes, é o melhor marcador de sempre nos campeonatos do mundo, individual e colectivamente conquistou variadíssimos prémios e mais que tudo ganhou o respeito e deixou uma marca que perdurará na eternidade deste desporto.

Hoje quando vemos este novo Ronaldo pergunta-mos o que de tão grave pode ter acontecido para a queda do Fenómeno à superfície terrena, da transformação física brutal, condicionada por excessos alimentares, má gestões e problemas na tiróide, às lesões, dos joelhos aos tendões, das noitadas, da bebida e das polémicas, tudo é razão para o que aconteceu, por tudo isso tenho pena de ver Ronaldo nos “gramados” brasileiros, não que estes não o mereçam, só que Ronaldo devia estar noutro lugar, numa equipa de top, num campeonato competitivo que o obrigasse a trabalhar, assim teríamos o Fenómeno, e garantidamente bom futebol.

Quem o vê no Corinthians espera sempre mais, para já tem marcado, corre pouco mas também não precisa de muito mais e parece feliz, com vontade, festeja e celebra, mas mesmo assim fala-se já de noitadas e escândalos, assim veremos… eu pelo menos quero acompanhar o que por lá faz o R9, ninguém sabe se num dia, num jogo, num minuto, numa jogada voltamos a ver o Fenómeno, como sempre nós recordaremos dele.

0 comentários: