O futebol é dos técnicos

“O futebol é dos técnicos. E não me refiro aos treinadores, mas sim aos futebolistas que dominam a técnica.”
Johan Cruijff

A beleza deste jogo está estreitamente ligada aos jogadores que sabem tratar a bola como ela merece, os pormenores fantásticos de alguns magos que passam pelos nossos relvados perduram na memória, mas será que a técnica é algo absolutamente inato?

Wiel Coerver acreditava que não e na década de setenta desenvolveu o que hoje conhecemos como Método de Coerver. Coerver foi um técnico holandês que treinou vários clubes do seu país entre 1959 e 1977, tendo passagens por emblemas como Roda JC, Sparta Rotterdam, NEC e Feyenoord. Durante a sua passagem pelo nosso desporto foi ficando conhecido como grande mago do treino técnico, sendo apelidado por muitos como o “Albert Einstein do Futebol”.

Contudo a marca inegável de Coerver é o seu estudo e análise que deram origem ao Método de Coerver, hoje considerado o método de treino técnico número um no Mundo. Este método visa o desenvolvimento técnico individual e de situações de jogo em que intervêm um pequeno grupo de jogadores. O Coerver assenta uma estrutura piramidal composta por seis níveis de aprendizagem, sendo que estes se acumulam e para o alcance dum nível superior é necessário que o jogador domine os conceitos do nível precedente. Os seis níveis são:

1. Domínio de Bola - repetição de exercícios individuais de controlo de bola com os ambos os pés;
2. Recepção e Passe - perspectiva desenvolver o primeiro toque, incentiva e ensina a utilização de passes certeiros e criativos;
3. Movimentos 1vs1 - para desenvolver movimentos individuais e criar espaço no sistema defensivo oponente;
4. Velocidade - para desenvolver a aceleração, corrida com e sem bola e mudanças de ritmo;
5. Finalização - para melhorar a técnica de finalização e encorajar jogadas instintivas nas imediações da área adversária;
6. Ataque Colectivo - visa melhorar as combinações ofensivas em pequenos grupos com ênfase em ataques de ruptura rápida.

Wiel Coerver desenvolveu o seu método a partir da observação de grandes jogadores a nível mundial e é nesse sentido que a metodologia tem avançado, no enorme conjunto de movimentos que completam toda a estrutura do Coerver, temos influências de Pelé, Garrincha, Rivelino, Puskás, Maradona, Cruijff e muitos outros.

Considerando a técnica arma essencial para a melhoria do jogo colectivo, o Coerver objectiva dotar os jogadores de capacidades técnicas ilimitadas que lhes permitam desenvolver e incrementar o seu jogo em equipa, neste sentido a repetição dos exercícios e movimentos levará a uma mecanização dos mesmos que permitirá aos jogadores recorrer a estes de forma automática em situações de jogo, mesmo quando sob pressão adversária.

Desde a sua criação esta metodologia tem-se espalhado pelo mundo e servido de base para grandes escolas de formação, no seu país de origem, a Holanda, grande potência na formação a nível metodológico, o Coerver é base do sistema de formação e princípio natural da maioria dos clubes, está também presentes noutros pontos do globo, na estrutura de clubes como Barcelona e Man Utd e de academias internacionais como é o caso de Clairefontaine.

Em Portugal o Coerver vai aos poucos ganhando a importância e atenção dos mais atentos, acções de formação e seminários alusivos ao tema vão aparecendo e já se trabalha nesse sentido. Destaque neste caso para o FC Porto que através do jovem técnico holandês Pepijn Lijnders, tem este método de técnica individual presente em todos os escalões. Lijnders veio do PSV em 2007 e é visto como uma referência no treino técnico, sendo muitíssimo elogiado por todos que conhecem o seu trabalho. Nos dragões tem papel de destaque na formação, acompanha todos os escalões dos «azuis e brancos» e é técnico principal da equipa de infantis A, grupo que revela imensa qualidade no domínio técnico, sendo notório o trabalho do técnico holandês.

O Coerver incide principalmente nas equipas de formação mas pode também ser utilizado a nível sénior e é hoje considerado um enorme guia para o bom futebol, é bom que os treinadores estejam bem atentos e tentem melhorar e desenvolver o seu nível de treino para bem do futebol.

6 comentários:

filipe disse...

Há algo de inato na técnica. Por exemplo, para se receber bem uma bola é, em primeiro lugar, preciso antecipar onde ela vai cair. Isto tem a ver, muito, com a prática e o desenvolvimento da técnica, mas também com aspectos de capacidade inata. Há estudos que explicam, neste exemplo particular, que os homens têm mais aptidão do que as mulheres e que entre os homens há uns que têm mais do que outros.

Posto isto, e relativamente ao treino, sou dos que defende que em idades mais jovens o melhor método é ter a bola como principal brinquedo. Ganhar familiaridade com a bola e jogar o máximo possível, na escola, em casa, ou em qualquer lugar, continua a ser o melhor método. E podemos, por exemplo ver que países como o Brasil ou Argentina continuam a produzir os mais fantásticos artistas do mundo que nascem quase invariavelmente na rua.

Mas há outra vertente que me parece importante discutir que tem a ver com a pressão psicológica de reagir em ambiente de jogo. Por exemplo, é perfeitamente vulgar vermos um jogador que executa sempre bem exercícios de finalização e que nos jogos tem uma eficácia muito baixa. Isto tem a ver com aspectos de natureza psicológica e, se uns jogadores têm naturalmente mais "nervo" do que outros, também acredito que é possível desenvolver essa componente através de um trabalho mais ao nível psicológico com os jogadores do que propriamente ao nível técnico (o que é óbvio, porque no caso em particular, o problema não é a técnica).

Dou um exemplo: há quem defenda que colocar um avançado em ligas com grande % de golos é benéfico. Não que o avançado fique por isso mais dotado tecnicamente, mas porque treina mais situações de finalização em ambiente de jogo, evoluindo em termos mentais em relação a como lidar com esses momentos. Esta teoria pode começar a explicar porque é, por exemplo, o futebol holandês produz goleadores e o português não, sendo ambas as escolas semelhantes ao nível de evolução técnica...

Abraço

Dário Pinto disse...

Olá Filipe,

Sim, sem dúvida as capacidades inatas são inerentes ao bom jogar, querendo ou não, com ou sem Coerver países como Argentina e Brasil vão continuar a desenvolver jogadores prodigos na capacidade técnica, e para além disso existem claros os aspectos psicológicos.

Contudo o que pretendo passar é que é cada vez mais o trabalho de base a nível técnico deve ser desenvolvido, a bola nunca pode ser um elemento a mais na vida de um jogador, o que às vezes acontece.

E se nesse tipo de países essa aproximação é feita por um ponto de vista cultural, existem muitos outros em que é preciso produzir isso. É preciso também observar a estrutura do futebol de formação nas várias áreas, os países sul-americanos têm grande costume de começar a formação pelo futsal, onde existe um contacto com bola muito superior, nós e muitos outros países não o fazemos, inserimos os miúdos em fut7 e até fut11 onde o contacto é muito inferior.

Por isso mesmo, e pelas experiências que tenho observado considero que o Coerver é algo muito interessante e capaz de ajudar na formação. Mas não deixa de ser uma opinião.

Abraço,
Dário Pinto

filipe disse...

Dário,

O meu comentário não pretendia discordar da utilidade do método. Aliás, nunca poderia faze-lo como contra ponto à opinião de alguém que tem experiência prática, dado que eu não a possuo como treinador.

Apenas estou a levantar alguns pontos que julgo serem importantes, quer nos aspectos inatos, quer na importância do jogo como divertimento numa fase precoce de formação, quer, mais tarde, no desenvolvimento de aspectos psicológicos que influem no desempenho técnico mas que existem apenas no contexto de jogo.

De resto, estou perfeitamente de acordo que cada país tem a sua própria cultura e terá de encarar a formação à luz dessa realidade. Particularmente em Portugal, parece óbvio que a rua vai cada vez mais deixar de ser uma primeira escola, mas penso que a popularidade do futsal poderá a curto prazo tornar esta modalidade num primeiro passo para muitos futuros profissional do futebol de 11.

Um Abraço

Dário Pinto disse...

Filipe,

Eu percebi que não estavas a tentar criticar ou discordar, e percebo também o teu ponto de vista quanto às capacidades inatas.

Por isso mesmo é que quis dar a conhecer um pouco do que é o Método Coerver, afinal o futebol de rua é cada vez mais uma raridade e essa falta de criatividade individual afecta imenso o futebol do futuro.

Quanto ao futsal, acredito que se possa desenvolver ainda mais, mas pelo que tenho conhecido no meio falta ainda a consciência de transição para o futebol. O futsal tem crescido num mundo à parte e isola-se muito do futebol, e quando a transição deve acontecer é bloqueada pelos próprios clubes.

Acho que só com o futsal na estrutura dos clubes é possível fazermos esse tipo de trabalho, tal como é feito em países como o Brasil e etc.

Enquanto nada disto se realiza há que encontrar formas de dotar os miúdos. Ponto essêncial no Coerver e que espero que todos tenham percebido, é que se trata de algo extremamente livre, que pretende desenvolver nos jogadores imensa criatividade, imprevisibilidade e claro técnica.

Para quem quiser conhecer mais, existe imensos videos e sites na net sobre o assunto, e existem também os dvd's guia para o treino de Coerver, espero que aproveitem.


Abraço,
Dàrio

Anónimo disse...

Boas.

Interessado numa troca de links ?

http://apenasesofutebol.blogs.sapo.pt/

cumprimentos

Andre

Anónimo disse...

O vosso nao ! O meu !

Lol

Link adicionado

Abracos