"Crónicas de um treinador": Diferenças inerentes ao contexto social

Quando vos falei da experiência em Lisboa algo que fiz questão de falar desde logo, e porque realmente me apercebi disso desde as primeiras impressões na capital, diz respeito às diferenças ditas “regionais”, ou seja, pequenos fenómenos que diferem entre Porto e Lisboa na forma de pensar, abordar e trabalhar o futebol, algo que se reflecte no treino e não só.

Há primeira vista, em patamares semelhantes, as diferenças não são notórias, mas quem estiver atento percebe que elas existem e provêem essencialmente das pequenas distinções no panorama social que mais tarde interagem com todo o processo. Há bastante tempo falei-vos nisto mas num contexto diferente, neste caso a abordagem é um pouco divergente e apesar de não ser algo fundamental penso que deve ser tido em conta. O que me levou também a pensar nisto foram algumas conversas com treinadores dos vários escalões que reforçaram esta ideia.

Apesar de serem as duas maiores cidades portuguesas, Porto e Lisboa são muito diferentes, principalmente no que diz respeito à sua população e cultura, muito mais diversificada e aberta, Lisboa reflecte traços de várias influências e isso afecta qualquer fenómeno onde haja interacção social, por isso mesmo o futebol não é excepção, sendo afectado pois os intervenientes no processo desportivo trazem essas novas variáveis.

Assim a grande quantidade de pessoas/jogadores de raça negra, por exemplo, influência imenso a formação e o processo de treino, normalmente mais maturados e com uma apetência morfológica mais capaz para a prática desportiva, este grupo eleva o nível de qualidade e aumenta a intensidade de trabalho, dando ênfase a um processo contínuo de constante superação. Ainda assim fico com a ideia de que os índices de agressividade são bem maiores no Porto, característico desta zona, a “pronúncia do Norte” destaca-se também no futebol e os jogadores são por norma mais aguerridos, contrastando com uma procura maior pela técnica na capital, neste sentido é notório quando um jogador do Norte interage com um grupo em Lisboa, destacando-se pela intensidade e agressividade. No entanto reforcei a ideia de que continuamos (e nisto falo da realidade que conheço, aqui no Porto) algo atrasados em relação ao que se passa noutros locais onde a formação está mais desenvolvida, a procura por um futebol mais físico e agressivo não é positivo para a formação e neste aspecto a realidade que encontrei em Lisboa pareceu-me melhor.


Há ainda em relação a isto alguns assuntos que quero desenvolver, mais virados para a metodologia de treino, onde encontrei também algumas diferenças, no entanto fica para outra altura. Há bastante para abordar e mesmo sobre este tema sei que podia ter desenvolvido mais um pouco.

3 comentários:

Rafael Antunes disse...

Boas!

O paradigma do físico é uma batalha e uma desconstrução difíceis de realizar. Está de tal forma enraizado na nossa cultura desportiva, que há ainda miuta gente a guiar trabalhos de formação por esse azimute.

Não concordo, e no meu dia-a-dia de treinador de formação recuso-me terminantemente a trabalhar dessa forma. Dá para ver na diferença que há em termos de processos de jogo e no entendimento do próprio jogo. Mas, na formação, há o hábito de treinar, jogar, gerir como de séniores se tratasse, e o que é facto é que a "antiga escola" vai conseguindo competir com a "nova".

É uma questão de mudar mentalidades, e isso leva tempo.

Gosto d pensar que estou a trabalhar para daqui a 10 anos. Daqui a 10 anos, os meus meninos vão mostrar a diferença que tiveram na sua formação (e não digo que é perfeita ou ideal, diferente), e quando forem séniores talvez a diferença que já têm hoje seja reconhecida.

Um desabafo.
Cumprimentos

Dário Pinto disse...

Boas Rafael,

Sem dúvida que tens razão, mas temos de nos preocupar com o futuro, o futuro será o reflexo do nosso trabalho hoje.

Força e obrigado por acompanhares!

Um abraço!

Anónimo disse...

Um grande exemplo sobre o futebol aguerrido e de força e o vitoria de Guimarães, a equipa de juniores do ano passado, muscularmente era das equipas mais bem desenvolvidas que me lembre no futebol de formação.