Santos da casa fazem milagres?

Em Dezembro do ano passado escrevi um artigo que falava do campeonato francês, da sua grande capacidade em gerar bons jogadores e acima de tudo do enorme aproveitamento que se faz desse mercado interno. Escrevi-o na altura comparando esse mercado com o nosso, que eu considero ser muito pouco produtivo a esse nível.

Hoje, depois de mais um jovem português sair para um grande campeonato europeu sem nunca passar pela nossa primeira divisão, isto faz-me pensar. É frequente passarem por Portugal jogadores que apesar de demonstrarem talento isso nunca lhes é reconhecido com uma aposta real num nível mais alto dentro do nosso campeonato, e não falo só dos jovens portugueses mas também de vários estrangeiros que aqui chegam por uma porta bem pequena e acabam por abandonar Portugal para melhores paragens no estrangeiro, podia isto querer dizer que temos estrutura, organização, capacidade monetária e visão para conseguir lá fora mais-valias, mas a verdade é que não… falhamos imenso nas contratações, continuamos a ser um campeonato gerido por empresários e a aposta em algo diferente é quase nula.

É de lembrar o seguinte, naquelas em que foram as épocas de maior sucesso recente de uma equipa portuguesa na Europa, José Mourinho construiu um FC Porto assente numa base de jogadores portugueses e em dois anos reforçou a sua equipa com 24 jogadores (contando aqueles que foram realmente aposta na primeira equipa), desses 24 (13 em 2002/2003 e 11 em 2003/2004), na primeira época apenas dois vieram do estrangeiro, curiosamente dois portugueses, o guarda-redes Nuno (Deportivo) e o defesa central Jorge Costa (Charlton), os restantes foram jogadores como Pedro Emanuel (Boavista), Nuno Valente (Leiria), Paulo Ferreira (Setúbal), Derlei (Leiria). No ano em que venceu a Liga das Campeões chegaram três reforços do exterior, Bruno Moraes (Santos), Carlos Alberto (Fluminense) e Benni McCarthy (Celta de Vigo), mais uma vez os restantes foram jogadores de equipas de segunda linha do nosso campeonato, Bosingwa (Boavista), Maciel (Leiria), Pedro Mendes (Vit. Guimarães), Hugo Almeida (Leiria), etc.

Com isto quero mostrar que é possível fazer um bom trabalho sem cometer loucuras, infelizmente a nossa mentalidade ainda é pequena para admitir e reconhecer talento em clubes inferiores dentro do nosso país, comete-se por isso imensos erros como os que temos visto nos últimos anos, casos de jogadores como Nelson Benitez, Prediguer e Valeri no FC Porto, Andres Diaz, Zoro e Balboa no SL Benfica, Celsinho, Caicedo e Angulo no Sporting CP.

E o mais preocupante é que enquanto é dispendido dinheiro neste tipo de jogadores não sabemos aproveitar o que temos cá e deixamos passar jogadores como Diego Benaglio (Nacional), Zé Castro (Académica), Wendel (Nacional), Geromel (Vit. Guimarães), Rodrigo Alvim (Belenenses), Ghilas (Vit. Guimarães), Linz (SC Braga), Diego Ângelo (Naval), etc.

1 comentários:

bm1981 disse...

No que diz respeito a transferências acho que o post está bem explicito.

Faz todo o sentido procurar primeiro "cá dentro", nem que seja devido a questões monetárias.

Outro aspecto interessante na transferência do Bebé para o United é.. ser mais um jovem, que não teve formação em nenhum dos grandes ( pelo menos pelo que percebi ) e .. não só escapou ao olhar dos olheiros e prospectores nas camadas jovens como...

Aparentemente é melhor do que a maioria dos jogadores formados pelos melhores treinadores, nas melhores condições.

Várias questões se podem colocar aqui, a que me faz mais comichão é.. Será que a metodologia de ensino nos clubes grandes é a melhor para a formação dos jogadores?

Jogadores como Di Maria, Bebé, Hulk e por ai fora... são conhecidos por tomarem constantemente más decisões (coisa que acontece muito menos com jogadores formados com base nas mais recentes metodologias, já que se treina no sentido de educar os jogadores a decidir bem, tendo em conta a informação que emerge no jogo), mas ainda assim... são jogadores que valem Milhões, e são os mais procurados, porque .. no fundo são aqueles que fazem a diferença.

Sendo assim.. será que o que estamos a fazer, é o melhor para eles?

Abraço