Benfica, para pensar (o jogo)

A primeira época de Jorge Jesus no comando do Benfica trouxe ao futebol português uma equipa encarnada de uma qualidade que à muito não se via no Estádio da Luz, desde o início de época 2009/2010 que esse Benfica foi praticando um futebol atractivo, com uma posse de bola de grande nível juntamente com transições fortíssimas e muitas vezes fatais para as defesas adversárias. Curiosamente o sistema que Jorge Jesus implementou no seu primeiro Benfica tinha particularidades interessantes, uma delas que eu considero fundamental para esse sucesso e que entretanto o seu mesmo Benfica perdeu.

Nesse ano Jesus fazia alinhar à frente da sua defesa, Javi García como pivot defensivo, Aimar na zona criativa do meio campo, Di María com liberdade sobre a esquerda e Ramires descaído sobre a direita, na frente de ataque Cardozo e Saviola somavam golos. Um sistema assimétrico mas muito equilibrado, onde Ramires, compensava a liberdade de Di María e dava a Aimar o complemento necessário para a equipa pausar e pensar o seu jogo, gerir a sua posse, gerir o desgaste (seu e do adversário) e não entrar num jogo louco de transições. Dessa forma o Benfica sagrou-se campeão, encantou adeptos e convenceu todo o país.

Também fruto desse sucesso na época seguinte Jesus perdeu Di María e Ramires, para os seus lugares chegaram Nico Gaitán e Eduardo Salvio e aqui começou o problema encarnado, a jogar com dois extremos o Benfica perdeu qualidade na posse e o seu jogo mudou, de tal forma que muitas vezes vimos um Benfica assente em transições rápidas, muito vistoso mas de enorme desgaste (completamente visível nalguns jogos), de poucas pausas e acima de tudo com pouco tempo/espaço para pensar o jogo.

Esta época Salvio saiu e o Benfica voltou a investir forte no mercado na procura de soluções, chegaram Nolito, Enzo Perez e Bruno César, todos eles jogadores de interesse mas nenhum, a meu ver, capaz que solucionar o problema de Jorge Jesus. Até que o Benfica garantiu Axel Witsel e pensei eu que estava resolvida a situação. Apesar de ser muito diferente de Ramires, Witsel tem enorme qualidade e encaixa perfeitamente num meio campo ao lado de Aimar, apoiando toda a equipa mas dando ao argentino soluções para este fazer o que sabe melhor.

É com surpresa que constato que Jesus não partilha da mesma opinião, principalmente depois de ter provas, neste mesmo Benfica, de que esta é a melhor solução. Mesmo com Witsel, tem insistido em alinhar com dois extremos, Nolito à esquerda e Gaitán à direita, e dois avançados, num 4x2x4 de enorme projecção ofensiva, mas sem equilíbrio defensivo, onde o meio campo fica demasiado exposto e onde não há espaço para pensar.

No meio disto há um mal menor, o 4x5x1 que o Benfica tem utilizado a espaços, que derrotou o Arsenal, que colocou o Benfica na fase de grupos da Champions League com a recente vitória frente ao Twente na Luz. Urge Jesus perceber que com Witsel no banco nunca vai chegar perto da qualidade conseguida na sua primeira época, qualquer equipa que queira um bom futebol preciso de jogadores que o pensem, que o idealizem e executem, veremos até quando Jesus será teimoso o suficiente para não perceber isso.


Artigo escrito para o Futebol Portugal

3 comentários:

Otto disse...

Curioso falar num 4-2-4..pois bem, um mesmo sistema foi usado recentemente pelo "maior", o José, contra o Barça, e, no entanto não vi ninguém criticar o José...será por um ser JJ e outro JM??

Curioso...

P.S.: Se não acredita que o Real jogou assim, se rever o jogo, há uma imagem minutos após o 1-0 em que se vê o tal esquema 4-2-4!!! É só rever o jogo!!! Contudo era uma táctica do Mourinho...acho estranho este ataque ao JJ!!!

Dário Pinto disse...

Otto, obrigado pelo comentário.

Não dúvido que o Real assim tenha jogado mas isso não é nem nunca será justificação para o mesmo resultar noutra equipa, aliás, mais do que o sistema importa o modelo, os princípios e quais os meios para o jogar.

Na minha opinião o Benfica só perde em jogar desse forma, e aí Jorge Jesus é culpado.

Futebol não são receitas que possam ser usadas de qualquer forma.

Otto disse...

A minha comparação é só porque ninguém criticou o Mourinho, ou apelidou de jogar no modelo suicida!!

Concordo com análise, mas acho que anda um ataque estranho contra o JJ!!

Quanto aos modelos de jogos e princípios são mais importantes do que a táctica, disso não tenho a menor dúvida, basta para isso olharmos um pouco mais com atenção para o Barcelona!!

Quanto ao modelo de jogo do Benfica ele está lá, este ano, acho é que o JJ dispõe de vários jogadores que lhe permite jogar em várias tácticas..contudo parece que ele mesmo este ano está apostar na táctica 4-5-1 ou 4-2-3-1 se preferir, e, aqui há um trabalho notável de toda a equipa técnica do SLB, por um jogador onde a critica era unânime em dizer que não servia para esta táctica, que o melhor era vendê-lo e até agora pelo que se viu tem rendido e jogado bem!! Vide o jogo da Champions!!

Por não ver ninguém a referi este facto, e, ver toda gente a bater no ceguinho que o JJ erra quando ganha porque não devia ter jogado assim mas assado, quando empatou porque não devia ter jogado assado mas assim!!! E, ninguém vê este pormenor que é para já um PORMAIOR..pelo menos no campeonato desde que jogo o Cardozo ainda não perdemos!!