A importância do contexto para o Modelo de Jogo


Falo com um treinador do clube onde estou sobre a formação nacional e sobre o futuro do jogador português, contrariando as visões pessimistas defendo que Portugal tem o bem mais raro do futebol, o talento, mas que urge uma mudança radical na forma de pensar o nosso futebol juvenil. 

Porque acredito que nos falta organização, que poucos são os clubes da nossa formação que trabalham apoiados num modelo de jogo comum, em que existe um processo coerente e abrangente aos vários escalões da formação. No fundo falta toda a base que nos possa permitir evoluir para um nível seguinte, porque quando o processo é aleatório os seus resultados também o serão. 

Por razões que desconheço quando menciono a importância dessa mudança, todos concordam mas a grande maioria responde dizendo que é impraticável, que os clubes neste momento têm objectivos competitivos na formação (que na maioria das vezes são, de forma errada, prioridades) que não permitem a execução de determinado tipo de futebol, um jogo desse género, jogar em posse, etc., etc. 

Infelizmente a ignorância é resposta a muitas questões, quem olha de lado para esta nova geração de técnicos e professores, quem vê esta mudança apenas associada a um tipo de jogo está profundamente errado. Construir um modelo de jogo não é copiar isto ou aquilo, a idealização de um projecto dessa natureza não pode nunca se basear em imitar esta ou aquela realidade, porque o modelo de jogo de cada clube deve ser próprio, deve nascer dentro do modelo do clube e deve crescer profundamente ligado ao contexto em que está inserido. 

Construir um modelo não é tentar jogar à Barça em todos os escalões, isso sim é impraticável, construir um modelo é idealizar o jogo que se pretende, é analisar o contexto e objectivos em que estamos inseridos, é perceber os recursos que temos disponíveis e aí sim moldar o “jogar” que pretendemos, os princípios, sub-princípios e sub-subprincípios do que queremos que apareça em campo e quais as formas de aí chegar. 

A solução não passa por imitar o que vemos em Espanha ou noutro lado qualquer em que apareça qualidade, a solução é olharmos nos olhos da nossa realidade, é percebermos o que temos de melhorar, é criar organização na nossa formação, é ter paciência para um processo que vai e deve ser longo, é construirmos desde a base aquilo que queremos que apareça no topo da pirâmide, e se queremos que esse topo seja de excelência, a base deve ser também de excelência.


Artigo escrito para o Futebol Portugal

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