Futebol raios-gama, a mutação de um Super-herói

Há jogadores que nos cativam pela classe, pela técnica, pela frieza, até pela personalidade, outros antes de tudo isso, deixam uma imagem curiosa, um olhar desconfiado mas ao mesmo tempo ansioso para percebermos o que nos espera. É assim que fico quando vejo Hulk, o brasileiro que tem agitado as águas do dragão.

Depois dos primeiros tempos em que se falou mais do nome do que do jogador e onde muitos, incluindo eu próprio, duvidaram do real valor deste jovem com nome de herói de banda desenhada e proveniente do campeonato japonês, Hulk invadiu os nossos relvados e tem sido uma das figuras do campeonato português, com os «azuis e brancos» a deverem parte do seu bom momento ao avançado brasileiro.

Quando o vemos jogar percebemos porque o nome Givanildo Vieira de Sousa nunca passou do bilhete de identidade, o poder de arranque, a potência muscular, a velocidade, a técnica e o terrível pé esquerdo mostram o lado monstruoso do futebol de Hulk. Para além de tudo isto tem uma característica de todo invulgar, mostra uma confiança pouco habitual na juventude dos seus 22 anos, sente-se no seu mundo ao assumir o jogo, ao levar a bola para a frente, sente necessidade de a ter e isso é sinónimo de algo bom. No entanto tem ainda algumas lacunas em termos de jogo colectivo, é fraco tacticamente, mostra dificuldade quando precisa de jogar simples e isto condiciona a sua intervenção no jogo de equipa, os que em nele não acreditam gostam de massacrar estes pontos, mas há que ter em conta um facto que na minha discutível opinião é de salientar, todas estas características negativas do “gigante verde” são possíveis de trabalhar. Muitos jogadores têm deficiências em pontos que dificilmente são moldáveis na idade adulta, Hulk por sua vez precisa de bastante trabalho mas em áreas que se for bem acompanhado e potenciado pode evoluir.

Chega a ser caricato ver Hulk jogar, há algo de diferente no seu futebol pela forma como parece estar à margem do próprio jogo, para Hulk existem três pontos essenciais: ele, a bola e a baliza (a que ataca claro, pois para ele parece existir apenas uma), tudo o resto, desde adversários a possíveis linhas de passe fica perdido depois do “furacão verde” passar. Até a sua movimentação é diferente da do avançado clássico, tem uma lógica de movimentos que contraria muitos principais básicos da sua posição, mas a metamorfose táctica do actual FC Porto, que depois de dois anos num 4x3x3 “nacional” tem agora mais consistência e futuro num sistema que varia para o 4x4x2 com o monstro na frente de ataque, mostra que muitas vezes o futebol não respeita regras e inova-se contrariando a lógica, redescobrindo-se a cada passo.

O seu nome futebolístico, Hulk, tem piada, é certo que os japoneses quando o atribuíram só deviam pensar na sua capacidade física e na camisola verde do Tokyo Verdy, mas Givanildo tem muitas parecenças com a personagem Bruce Banner da banda desenhada, tal como Banner o nosso Hulk tem um potencial enorme, capacidades quase sobre-naturais mas precisa de ser controlado, sob o risco de cair em desgraça, a primeira mutação já aconteceu, Givanildo sem raios-gama é Hulk dentro de campo, precisa agora da segunda, precisa tal como o enorme monstro verde dos livros de quadradinhos de ser controlado, trabalhado e a partir daí poderá ser um fenómeno.


Resta-me esperar que isso aconteça, e que dêem tempo para que isso seja feito, não o levando já para outros locais onde não tenha espaço para crescer, até lá vou seguindo atento, quer na televisão, quer no estádio, à espera de mais uma transformação do INCRÍVEL HULK!

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