E deu início a segunda parte

Completada a décima sexta jornada da Liga Sagres, o nosso campeonato entrou na segunda volta, metade do caminho já foi percorrido e importa analisar estes seis meses de prova, com foco nos três grandes.

De Bwin Liga passamos a Liga Sagres, mudou o nome mas lá na frente continua tudo muito parecido. Depois da sensação Leixões e do Benfica líder por algumas jornadas, algo que já não se verificava há algum tempo, no final da décima sexta jornada o cenário não é muito diferente do da época passada.

Na liderança da prova está o FC Porto, mas num registo inferior ao de 2007/2008, onde por esta altura já tinha onze pontos de avanço sobre o seu perseguidor mais directo, o Benfica, este ano os «dragões» têm apenas um ponto que os separam do segundo classificado, posição novamente ocupada pelos encarnados, muito por culpa da instabilidade que marcou o arranque da época para os homens de Jesualdo Ferreira.

As saídas de Bosingwa, Paulo Assunção e Ricardo Quaresma marcaram de alguma forma os «dragões» e se na frente de ataque os reforços Hulk e Cristian Rodriguez colmataram a saída do extremo de rumou a Milão, o mesmo não se pode dizer das duas outras duas posições. No miolo Pelé nunca se impôs, e acabou agora emprestado ao Portsmouth, onde tem nova aventura no estrangeiro, Freddy Guarín mostrou que não pode desempenhar a função de pivot defensivo, Mario Bolatti voltou a desiludir e parece que perdeu definitivamente o seu espaço no Dragão, restou o jovem Fernando que de segunda hipótese passou opção principal e deu estabilidade ao meio campo portista, na defesa ainda não se pode dizer o mesmo, os problemas “laterais” resultantes da saída de Bosingwa e os erros de casting têm afectado a equipa nortenha, na direita o romeno Sapunaru continua a não dar garantia de qualidade, o que obrigou o uruguaio Fucile a ocupar a sua posição de origem deixando a ala esquerda para Lino e Benítez, o primeiro tal como na época passada mostrou que apoia bastante o ataque mas é demasiado descuidado defensivamente e acabou por rumar ao PAOK neste mercado de Inverno, já Nelson Benítez, argentino proveniente do Lanús é uma das contratações falhadas dos «dragões» e no final da época é provável que rume a outras paragens, perante isto o Porto foi buscar o jovem francês Cissokho que brilhou na primeira volta ao serviço do Vit.Setúbal, para já é prematuro avaliar o lateral de 21 anos mas pode ser uma boa opção para Jesualdo Ferreira.

Para o ataque a esta segunda volta e também a pensar nas restantes provas que tem ainda para disputar chegou Andrés Madrid, médio do Sporting de Braga, que se junta a uma equipa onde o principal destaque tem sido Hulk, jovem brasileiro que num jogo fascinante de velocidade, técnica e potência tem agitado as águas do Douro e não só. Com a equipa mais equilibrada o FC Porto parece ter mais hipóteses para conquistar o título, mas ao contrário de outras épocas, este ano não tem espaço para deslizes.

No segundo lugar da prova encontra-se o Benfica de Rui Costa e Quique Flores, motivados por mais uma “época do título” e depois de um enorme investimento, onde figuram os nomes de Pablo Aimar, Reyes e Suazo, os «encarnados» ainda não encontraram a dinâmica que se espera e a equipa ainda precisa de crescer bastante. Em relação á época passada conseguiu um registo superior, com mais uma vitória, conseguindo novamente o segundo lugar, mas apesar do potencial do seu plantel a turma de Quique ainda não se afirmou neste campeonato, tendo alternado entre bons momentos e jogos em que a equipa parece pouco dinâmica.

Com bastantes indefinições no onze base, desde a baliza, onde parece que Moreira é finalmente a escolha, ao ataque, onde o posicionamento de Aimar continua a criar motivo para discussão, a equipa da Luz ainda não encontrou muitas certezas, e para continuar na luta pelo título precisa de definir certos aspectos, e ter em atenção a forma como gere a pressão a que o plantel está sujeito, já que algumas intervenções de Quique Flores não têm sido coerentes. No miolo tem valido Katsouranis que é a meu ver o melhor elemento do Benfica até aqui, mas falta alguém que ajude o grego nas transições, problema nem Binya, nem Yebda, nem Carlos Martins têm conseguido solucionar, a chave pode estar em Ruben Amorim, outra das figuras dos encarnados mas que tem sido utilizado como médio direito, mais à frente com Aimar ainda a crescer o seu jogo à medida que melhora a condição física, quando falta Reyes ou a pontaria não está do lado de Suazo, Di Maria ainda se mostra inconstante, Nuno Gomes ajuda no que pode e Cardozo parece não se dar muito bem com o sistema da equipa, no entanto este Benfica já mostrou alguns bons momentos e é dos três grandes a equipa que mais pode crescer, tendo boas condições para vencer o campeonato.

Na terceira posição aparece o Sporting, com mais quatro pontos que em 2007/2008 onde era quarto atrás do Vit.Guimarães, a equipa de Paulo Bento foi a que menos mexeu no plantel e reflexo disso mesmo tem tido uma maior estabilidade, pelo menos a nível defensivo, onde Polga, Abel, Caneira, Tonel, Grimi e Carriço têm sido soluções seguras da melhor defesa do campeonato, a par com o Sporting de Braga. Na frente a equipa ressentiu-se da ausência de Liedson, mas com o «levezinho» de volta os golos começam a aparecer mais facilmente para a equipa leonina, no entanto o segredo para o melhor futebol deste Sporting está indiscutivelmente num montenegrino de vinte e três anos de seu nome Simon Vukcevic, Paulo Bento perdeu demasiado tempo em questões de balneário, com vários atletas, o que prejudicou o grupo e não permitiu á equipa crescer como deveria, no entanto com Vukcevic na equipa o perfume leonino é outro, o meio campo pautado pela regularidade de João Moutinho e pela técnica e pequenos toques do russo Izmailov ganha outra dinâmica e este Sporting pode ainda dar alegrias esta temporada.


Com os três grandes muito próximos tudo pode acontecer, depende essencialmente de como os conjuntos de Lisboa se portarão nesta segunda volta, onde podem facilmente tentar aproveitar um possível desgaste do FC Porto, a ver vamos, é certo que pelo menos esta temporada o campeonato ainda não parece decidido, o que é bom para o futebol e espera-se que leve mais gente aos estádios. Para terminar uma nota para o sensacional Leixões de José Mota, que apesar de já não liderar este campeonato, conseguiu uma primeira volta digna de registo, bom trabalho dos homens de Matosinhos.

1 comentários:

Rafael Antunes disse...

Boa noite!

Esta temporada está a ser atípica tendo em conta a mediocridade que têm sido as anteriores.

É realmente de salientar a meia época do Leixões. Uma surpresa para todos, mas acaba por nos dar uma certeza. Os pequenos não estão condenados a ser pequenos como muitos sentenciam. Podem de facto lutar por outros objectivos, assim se estabilizem, se reforcem onde e como devem, e tenham gente capaz a liderar. Ao invés de se venderem a negociatas de valores e/ou qualidade duvidosa.

A comparação entre a época do F.C Porto e do S.L.Benfica leva-me a concordar com as primeiras declarações de Quique Flores. Quando chegou disse que para além de requalificar a equipa, se deveríam apontar esforços para a reabilitação da "alma" da equipa, porque era nitidamente uma equipa com uma dinâmica perdedora. Achei na altura, e continuo a achar, que estávamos perante um treinador diferente, com preocupações e postura diferentes do que estamos habituados.

Senão vejamos, o S.L.Benfica, como equipa em dinâmica perdedora, requalificou (se bem que não tenha equilibrado) de facto a sua equipa, mas a mentalidade ainda não mudou.
Já o Porto, equipa regularmente ganhadora (pelo menos em Portugal) e com uma dinâmica ganhadora já bem enraizada no clube, ainda que tenha retocado a equipa (tmbém com os seus desequilíbrios), sofreu com as suas opções mas conseguiu contornar a situação (até agora).

Quantos anos levou o F.C.Porto a construir a sua mentalidade? Muitos
Quantos anos levou o S.L.Benfica a perder a sua? Uma época apenas.

O problema muitas vezes nem tem que ver com este ou aquele treinador/sistema/jogador, porque quando bem planeados nem sempre trazem problemas de maior.
Já aspectos psicológicos, mentalidades e identidades tem que se lutar muito para de construirem, mas podem perder-se por muito pouco.

Estes dois clubes colhem hoje o que semearam no passado, e está à vista de todos quais são os frutos.

Cumprimentos
Rafael Antunes