Viagem a Aveiro, reflexos de uma cidade

(Texto recuperado do projecto Olheiro.net, escrito ano passado, mas que continua bem actual depois de novo jogo em Aveiro.)

Viajo rumo a Aveiro… enquanto a longa e negra estrada desliza por debaixo do carro, penso e divago, como habitualmente, no nosso futebol. Entre a agitação desta época vários momentos me passam pela cabeça, é aí que quase a chegar ao meu destino algo me capta a atenção, quase “isolado” aparece o novo e colorido Estádio Municipal de Aveiro, é, sem dúvida alguma, um estádio vistoso e que capta a atenção, poderia até ser uma imagem do nosso futebol, um monumento ao futebol moderno, a novas ideias, metodologias, em suma a uma nova vida, mas ao velo sinto algo de errado e sem saber bem o quê sigo viagem.

O destino levava-me até aos arredores de Aveiro, para ver um Beira-Mar vs FC Porto em Juvenis, mas antes passei no “velhinho” Mário Duarte, a imagem de um estádio com marcas visíveis do tempo mas com uma vida diferente, muito diferente do primeiro estádio mencionado nesta breve história, levou-me a compreender um pouco do errado de que falei anteriormente…

Mais tarde, já no meu local de destino e após estacionar o carro peço informações a um adepto aveirense sobre a partida, com o decorrer da conversa, a amargura e tristeza brotam das palavras do “velho” triste, que por muita pena minha, é a imagem duma cidade que perdeu o gosto pelo futebol. Frases soltas, vindas de tempo a tempo, como alguém que sentia necessidade de se justificar perante um desconhecido, afirmações como “já lá vai o tempo em que dava gosto ver a primeira equipa” ou “o Mário Duarte ao menos estava sempre bem composto, agora neste estamos praí 200 ou 300 pessoas…”, caracterizam o sentimento de muitos por aquelas bandas.

Na viagem para cá, pensei bastante no que vi, e passando a segunda vez pelo Municipal de Aveiro percebi um pouco do sentimento negativo que marca o futebol aveirense. Por incrível que pareça o novo estádio não transportou a sua cor para o clube de cidade, talvez um pouco do problema resida nisso mesmo, ali os verdadeiros adeptos do Beira-Mar não se sentem em casa, as suas cores são o amarelo e preto e não o conjunto de cores coloridas do novo estádio.

Depois de 2004, ano do Euro, o Beira-Mar foi caindo, está agora na segunda linha do nosso futebol, o desempenho desportivo é acompanhado pelo decréscimo de apoio e vida que os seus adeptos dão ao clube. Tudo isto mostra que o nosso Futebol é mais que um desporto, é uma forma de vida, cada clube tem a sua identidade e só assim sobrevive, para futuro é bom que se pense nisto, farto está quem gosta de futebol de ver cair clubes importantes como Campomariorense, Farense, Salgueiros, Alverca.

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