Ergam estátuas a Ferguson

Há poucos dias, depois da conquista de mais um título, concretamente o décimo primeiro campeonato inglês em vinte e três anos de liderança de Alex Ferguson, Sir Bobby Charlton, lenda viva do Man Utd, elogiou o treinador escocês, disse mesmo que o treinador dos Red Devils era na sua opinião o melhor treinador de sempre, “Ergam estátuas a Ferguson” disse o lendário jogador. Ora não irei discutir opiniões, pois cada um tem os seus gostos, por isso resta-me elogiar o homem e a sua obra.

O que Ferguson fez com este Manchester United é um trabalho incrível, a longevidade, a continuidade, a coerência e o sucesso do manager dos actuais campeões ingleses é algo pouco comum e incomparável com qualquer exemplo da actualidade. Em vinte e três anos de história Ferguson criou não uma equipa mas um clube, um projecto sustentado e equilibrado, com bases para o sucesso mas sempre com vista ao futuro.

Hoje, depois de tantos títulos, ninguém se lembra dos sete primeiros anos do escocês à frente do clube, sete épocas de razia, sete longos anos sem vencer um título, no entanto existiu um trabalho superior a tudo isso, a elaboração de um projecto, de uma estrutura que serviu de base ao que é e tem sido a equipa, anos essenciais ao sucesso que é hoje visível, trabalho imprescindível para que o United reúna grande parte do que eu acredito: mantém uma dimensão invejável mas não é destruído pela pressão e mediatismo, tem estabilidade, o amor dos seus adeptos e respeito dos adversários, tem história e passado, mas sucesso no presente, aposta na sua formação e vê o futebol com base na continuidade.

É este o futebol e a vida de um clube, comandado por um escocês paciente e teimoso, que faz da liderança a base do seu sucesso, que se inova e actualiza, que percebeu as mudanças do nosso futebol e continua a mostrar que não é difícil chegar ao topo, complicado é lá se manter. Poucos o conseguem, menos ainda chegam lá e partilham da mesma alegria que Sir Alex demonstra, sessenta e sete anos de experiência e competência mas a felicidade de quem levanta um troféu pela primeira vez.

O título de Sir assenta-lhe que nem uma luva, por tudo que fez Ferguson é sem dúvida um Senhor do nosso futebol, ao longo de todas estas épocas geriu como ninguém uma equipa que hoje é respeitada por todos, para percebermos a sua dimensão basta pensar no futebol actual dos Red Devils, a inteligência nas trocas posicionais, a capacidade de construção e execução, a coerência nas manobras defensivas, princípios do bom futebol, todos presentes nesta máquina inglesa.

Para além de tudo isto tenho obviamente que elogiar dois campos em que quanto a mim, Ferguson e a sua estrutura são exemplo para qualquer clube: a formação dos jogadores em idade adulta e a prospecção. Muitas vezes temos a ideia de que depois de atingirem o futebol profissional os jogadores pouco mudam as suas características, ora em Old Trafford não é bem assim, consoante as necessidades da equipa são vários os jogadores que transformam o seu futebol, normalmente para melhor, basta pensarmos em alguns exemplos, Scholes começou como um irrequieto avançado, hoje é um médio fantástico, peça-chave do Man Utd nos últimos anos, caso muito idêntico é o de Anderson, brasileiro que brilhou no Dragão pela capacidade desequilibradora, e que hoje mostra que como diz Luís Freitas Lobo “a boa técnica depende de uma boa decisão táctica”, Giggs que no início da carreira era apenas uma flecha galesa, hoje é um médio polivalente, capaz em quase todas as posições do meio campo ofensivo, um jogador de inteligência e utilidade inigualável, depois temos ainda Rooney e claro Ronaldo, o inglês chegou como uma força da natureza virada para a baliza adversária, hoje mantém a mesma irreverência mas é muito mais jogador, a partida que fez no Dragão frente ao FC Porto, é um exemplo de como se defende, de como a inteligência é aliada essencial do talento, o português é o modelo da transformação física, de como lapidar um talento ao máximo, ordenando a sua capacidade individual a respeitar o colectivo e melhorando aquilo que já parecia ser bom; para além disto a criteriosa escolha de jogadores é factor chave no Man Utd, e aqui penso que Ferguson tem grande parte da responsabilidade, mais uma vez Giggs vem ao de cima, Ferguson viu pela primeira vez o galês tinha este treze anos e representava o Manchester…City, viu nele algo de especial e por sua decisão, o pequeno Ryan mudou para os vermelhos de Manchester no dia do seu décimo quarto aniversário, três anos depois estreou-se pela equipa principal, para além deste caso, são inúmeros os atletas que chegaram ao clube vindos de realidades menores ou da formação e rapidamente se tornaram jogadores de outra dimensão, Steve Bruce, Paul Ince, Denis Irwin, Kanchelskis, Peter Schmeichel, David Beckham, Paul Scholes, Eric Cantona, Roy Keane, Gary Neville, Andy Cole, Ole Gunnar Solskjaer, Jaap Stam, Dwight Yorke, Fabien Barthez, Van Nistelrooy, Rio Ferdinand, Cristiano Ronaldo e Wayne Rooney. Exemplos que retratam uma forma de estar no futebol, uma visão de um homem que ficará para sempre na história deste desporto.

A imagem de Fergie, um escocês capaz a todos os níveis, que soube continuar o legado do grande Sir Matt Busby e superar mesmo os seus feitos, sempre com o seu ar concentrado e especial e com a eterna pastilha que lhe acalma o espírito, perdurará para sempre, de um homem que já é uma lenda e ainda nem terminou o seu trabalho.

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